PORTUGUESE REVIEWS

Segunda-feira, 3 de Abril de 2006 Oh, hobbits make nice music too

«Às vezes vale a pena esperar. Às vezes vale a pena deixá-los esforçarem-se, só mais um pouco, mais um bocadinho, e pode ser que cheguem lá. Não convém dar-lhes ilusões antes de lá chegarem. E como é que eles se sustentam até lá chegarem, é matéria que já nos escapa. Mas como até quem lá chega tem muitas vezes que continuar a comer papas de milho ao jantar, terá que haver outro tipo de recompensa que nos transcende.
Para estes moços, que na verdade é um e venham os mais cinco que estiverem na cercania, haverá certamente outra recompensa que no íntimo reclame. Porque andar com a carrinha com os pneus em baixo para fazer um gig num bar perdido no Texas e desesperar para marcar concertos com promotores indolentes, é só para os dedicados que se auto-sustêm. Ou seja, é verdade, Mike Sary, baixista e senhor French TV himself, chegou lá, provavelmente demorou seis discos a fazê-lo, e não lhe adiantou de nada. Nós, oportunistas com sentido de risco assisado, atiramo-nos ao sexto quase de cabeça, e ficamos a ganhar. O risco era precisamente o opus 5 do cavalheiro, que francamente nunca por nunca prometia este salto qualitativo (tanto o não prometia que cometemos o abuso de presumir que o que está para trás também não seja relevante – mas podemos estar errados, e deve-se assumir essa possibilidade). Algo se deve ter passado, e só Sary pode dizer o quê. Intestinal Fortitude (o tal 5) não aquecia, exasperava, em digressões instrumentais algo insensatas (com vocalizações ainda piores), sem grande sentido de integração composicional e tematizações trôpegas, com guinadas gratuitas cuja intenção lúdica se quedava apenas annoying, e claro, com condições de produção a condizer, como aqueles sintetizadores que deviam estar no caixote de lixo da história e do beco. Nesse sentido, o título do brilhante opus 6, “The Violence of Amateurs” até cairía bem ao opus 5, se o seu título “Intestinal Fortitude” não fosse já interpretável como demasiado gráfico quanto ao seu conteúdo (nem nós íamos tão longe… que artista tão auto-crítico é Sary…).

Como, mas como é que passa para The Violence of Amateurs é mistério que só lhe fica bem. E como é que susteve “carreira” que lhe permitisse chegar ao sexto disco é empreendedorismo que consegue ser quase dignificante dos fracos resultados que (eventualmente) até aí produziu.Factor (positivo) estranho para quem aborde à primeira distraída audição esta música, Sary é um ávido conhecedor e coleccionador de progressivo. Basta dizermos que a matriz instrumental do álbum e a sua solidez composicional e improvisativa conseguiram que só quando a dado passo se comete o give away de juntar uns acordes de sintetizador já um bocado passado pelo meio é que os censores do “eh pá, isto é progressivo” a partir do conhecimento básico (no mau sentido) dos seus clichés se apercebem do logro.
Progressivo, smchogressivo, isto é música de altíssimo gabarito. A agilidade das cambiantes rítmicas e temáticas tornou-se de um organicismo impecável. A dinâmica improvisativa desenvolve-se airosa balizada pelas irrepreensíveis, mutantes e estimulantes estruturas composicionais. A controlada diversidade de registos torna-o imune aos clássicos resmoneios aos solos derivativos.
Num álbum que, se quisermos classificar “progressivamente”, é marcado por dinâmicas vagamente canterburianas e vagamente RIO, a conciliação das duas resulta brilhante e altamente produtiva para os eventuais excessos ou fechamentos de cada uma isoladamente (se bem que tenham sido ou sejam das correntes mais produtivas e estimulantes do género). A parte RIO é a mais devedora do sentido lúdico da família dos agrupamentos de Lars Hollmer. E é curioso que o único ponto fraco do disco seja aquele onde fazem a vénia directa ao mestre, com uma cover de Joosan Lost/The Fate dos Zamla Mammas Manna, que francamente podia ter economizado 10 minutos de estética noise ou free não muito conseguida (felizmente está no final, para não assustar audições iniciáticas). Mas a inspiração indirecta faz maravilhas, agora que o lúdico e o circense se incorporam em matriz de gestão assisada evitando o grotesco e o gratuito dessas expedições. A veia canterburiana surge pela mesma sensatez controlada, e dando asas à imaginação na melhor veia da corrente que era não o descambar em solos meio FM, mas o incorporar a dinâmica instrumental naquela jazzy quirkyness temática (de perfeita imbricação rítmica, harmónica e melódica) que fazia a surpresa e frescura de Canterbury no seu melhor. Neste caso, quirkyness (é que não há tradução…) levada até territórios extra-musicais, com as incursões literárias de Sary nos livretes dos CD’s a pintar retratos sarcásticos das margens do real musical e político, fazendo uso sarcástico da sua condição de outsider de qualquer circunscrição.
A primeira faixa, parece quase uma provocação, ao pegar nos fetiches sonoros centrais mais circenses, quase a relembrar o esforço anterior dos French TV, e em 4 minutos condensá-los e fazê-los resultar sem quebras obtusas num exercício bem sucedido de musical teasing. Para que não restem dúvidas, Zappa também passou por aqui.
O humor, aliás, passa muito por aqui, mas como atitude intrínseca e escorreita, quase de bonomia, sem puxar pavlovianamente pela coisa, em inúmeros fragmentos, como a marcha inicial do segundo tema, espécie de Ponte sobre o Rio Kwai de exército prestes a descambar (e descambará) ao efeito de desbunde das brocas aspiradas na caserna. Ao que se segue inspirado e sincopado tema (aqueles sopros no ponto groovy) que dá o tom da classe deste disco que consegue não se levar a sério de forma seriamente competente.
Todo o álbum, e cada faixa, incorpora um caleidoscópio de inspirações sem esfregá-las na cara do auditor, passando pelo discreto sabor latino do início da quinta faixa, ou o subtil lounge jazz do início da quarta, sendo que cada uma jamais fica refém dessa primeira exposição temática (por isso não se assustem com a descrição, como ela parece requerer). O equilíbrio simbiótico entre temas constantemente sucedâneos e reconfigurados, irrupções inesperadas em surpreendente consonância estrutural, uma riqueza textural de apontamentos instrumentais a subtilmente estruturarem a percepção dos temas, são virtudes constantes em toda esta digressão, que merece os nossos encómios, sendo que a prodigiosa vitalidade temática e seus sabores exquisite conseguem integrar e dinamizar de forma exemplar as prolixas digressões intrumentais e improvisativas de cada faixa. E para quem os tenha visto em Gouveia em 2005, apaziguamos as reservas ao anunciar que a diversidade instrumental do álbum faz empalidecer a relativa pobreza tímbrica que os French TV em trio solitário e depauperado trouxeram cá ao vivo, não sinalizando convenientemente a densidade estrutural das composições.
Mike, podes ter massacrado a (pouca) gente que te tenha ouvido até então, e principalmente a ti próprio, e podes não ter, agora que o mereceste, mais gente a dar-te ouvidos. Mas, pela nossa parte, a esta distância dizemos-te: valeu a pena. Da próxima vez que nos calhar um disco esforçadamente mau na grafonola, prometemos, a nossa reacção será: dá-lhes tempo.»

French TV 9:  This is what we do

Este é o terceiro disco do grupo que conta com a participação dos multi-instrumentistas Warren Dale e Chris Smith, e o segundo com Jeff Gard na bateria. Assim (milagrosamente), a formação central do grupo é a mesma da do disco anterior (Pardon our French). Todas as faixas do This is What We Do foram executadas e compostas pelo quarteto Dale, Smith, Gard e Sary, exceto pela terceira, que foi composta por Smith, Gard e Sary e conta com um convidado como tecladista. Para felicidade de alguns e tristeza de outros, este é um dos poucos discos do French TV que não contém cover algum.

As músicas do This is What We Do têm a sonoridade típica do French TV (essencialmente, uma mistura instrumental de Frank Zappa, Canterbury e prog sinfônico), mas não deixam de trazer novidades consigo. Sem deixar de lado as referências ao prog, este disco é mais “jazz-rock” que os dois últimos; há passagens, especialmente em My Little Cicada, um pouco mais pesadas que o usual para o grupo. O French Tv possui algumas músicas que flertam com a vanguarda, como a Sekala dan Niskala no disco anterior, o This is What we Do não contém nenhuma faixa especialmente excêntrica, é um disco um tanto homogêneo para os padrões do grupo, mas as excentricidades estão lá, espalhadas pelo disco.

Chris Smith e Warren Dale têm marcado forte e boa presença no French TV desde que chegaram, incluem uma grande diversidade de instrumentos (dos convencionais aos exóticos) e ainda participam das composições. Por outro lado, há semelhanças com o “antigo” French TV (afinal, Mike Sary está lá com seu baixo, compondo e liderando o grupo). Assim, para quem gostou dos dois discos anteriores do grupo (The Case Against art e Pardon our French) não há motivo para não gostar do This is What We Do; e para quem ainda não teve a oportunidade, This is What we Do é um bom ponto de partida.
SOUNDCHASER, Autor: Davi C. Rodrigues (Davi); recebida em: 02/05/2006.

FRENCH TV 8 “PARDON OUR FRENCH!”

Como usual para o grupo, neste disco predominam os elementos de jazz-rock, prog sinfônico e vanguarda, junto com um pouco de bom humor. Classificar o French TV através daquelas usuais subclassificações do progressivo é sempre um trabalho complicado, ou impossível, mas a presença da estética progressiva é clara. Nos primeiros discos, o grupo pode pecar por uma ou outra faixa pouco inspirada, mas desde o Violence of Amateurs o French TV tem lançado álbuns bem consistentes e originais.

Pardon our French se divide em 5 faixas: Everything works in Mexico, Senkala dan Niskala, The “Pardon our French” Medley, Tears of a Velvet Clown e When the Ruff Tuff Creampuff Take Over. Há uma simetria na disposição das faixas: a primeira e a quinta são as mais calcadas no jazz-rock, a segunda e a quarta são as mais de vanguarda, e a terceira é a usual faixa cover do disco.

Detalhamento das faixas Os discos do French TV freqüentemente contêm algum cover, desta vez foi feito um “medley” de várias músicas de grupos progressivos e franceses da década de 70. Foram usados trechos de músicas dos seguintes grupos: Ange, Pulsar, Shylock, Carpe Diem, Atoll e Etron Fou Leloublan (um curto trecho para finalizar). Esta é a única faixa completamente sinfônica e a única cantada.

A segunda e a quarta faixas despejam no ouvinte uma insana diversidade de climas, ritmos, melodias e timbres. Desse caos emergem ótimas músicas de evolução rápida e completamente inusitada. Senkala dan Niskala, a mais rápida das duas, composta por Chris Smith, começa com tablas tocando um tema indiano e termina em um frenético fusion à Al Di Meola. Tears of a Velvet Clown, composta por Warren Dale, também passa pelos mais diversos temas, mas se centra em bem humorados e elaborados temas circenses. Nota: ambas as faixas lembram o Insurrection do Trap, do qual participaram Warren Dale e Chris Smith.

A primeira e a quinta faixas, compostas pelos quatro atuais membros do French TV, estão mais próximas de alguns dos trabalhos anteriores do grupo. Há nessas uma inclinação constante para um jazz-rock com toques “canterburianos”, junto de leve pistas de prog sinfônico.

Observações finais
Por algum motivo, o Pardon our French tem um som um pouco mais abafado que os dois últimos lançamentos, lembrando mais a qualidade de gravação do quarto ou quinto discos. De certa forma isto o deixa mais parecido com a sonoridade da década de setenta. Seja como for, Pardon our French está entre as mais recomendadas obras do French TV, muitos fãs de progressivo, com os mais diversos gostos, podem apreciar esta obra.

French TV – The Case Against Art (2001) —–Por Davi

The Case Against Art é o sétimo disco do French TV, sendo o sexto de estúdio, e um dos mais elogiados trabalhos do grupo. Este disco difere dos anteriores basicamente por dois fatores: ser menos jazzístico e mais voltado ao rock, e não possuir tantas diferenças entre uma música e outra, sendo mais homogêneo. Não há nenhuma faixa onde predomina o humor, mas, exceto pela Partly the State (que é um cover do Happy the Man), todas possuem trechos bem humorados.

As faixas compostas evoluem rapidamente e, segundo a tradição do grupo, de forma totalmente inusitada; neste disco, porém, essas inusitadas evoluções são ainda mais trabalhadas. Um sombrio e sério tema pode rapidamente, e sem parecer meramente colado, evoluir para um circense, e depois para um elegante e suave, o qual por fim se torna agressivo e anguloso. Assim, temas que a princípio seriam antagônicos se unem e se sucedem com impressionante naturalidade. Temos aqui músicas muito elaboradas e diversificadas, inúmeras influências podem ser apontadas, mas nenhuma em particular é uma descrição satisfatória.

O cover da Partly the State se encaixa perfeitamente no disco, embora se diferencie do resto especialmente pelos vocais e por ser mais melódica. É uma ótima música no estilo Yes/Gentle Giant que contribui muito para a totalidade da obra.

Mais uma vez houve grandes modificações na formação do grupo, mas a competência técnica é indiscutível, se encontrando no mesmo alto ndvel do predecessor disco do grupo. Fora o sempre presente e grande baixista Mike Sary, cujo estilo é bem característico, encontram-se alguns notórios nomes, como: Cliff Fortney do clássico grupo de prog Happy the Man, Shawn Persinger do Boud Deun (excepcional grupo de fusion), além de Chris Smith e Warren Dale do Trap (ótimo grupo de RIO). Outros membros, como Dean Zigoris e Greg Acker (ambos presentes na formação anterior), também merecem destaque pela competência técnica. Vale ressaltar que este é um disco com uma grande variedade de timbres e alguns membros são competentes em diversos instrumentos.

Este é mais um ãtimo disco que se enquadra na classificação “French TV”. Seus trechos de humor não são tão inspirados quanto os do Violence of Amateurs, mas as composições são ainda mais elaboradas. Imperdível.

—Davi, SOUNDCHASER -19/06/03.

FRENCH TV: The Violence of Amateurs (1999)
Às vezes vale a pena esperar. Às vezes vale a pena deixá-los esforçarem-se, só mais um pouco, mais um bocadinho, e pode ser que cheguem lá. Não convém dar-lhes ilusões antes de lá chegarem. E como é que eles se sustentam até lá chegarem, é matéria que já nos escapa. Mas como até quem lá chega tem muitas vezes que continuar a comer papas de milho ao jantar, terá que haver outro tipo de recompensa que nos transcende.

Para estes moços, que na verdade é um e venham os mais cinco que estiverem na cercania, haverá certamente outra recompensa que no íntimo reclame. Porque andar com a carrinha com os pneus em baixo para fazer um gig num bar perdido no Texas e desesperar para marcar concertos com promotores indolentes, é só para os dedicados que se auto-sustêm. Ou seja, é verdade, Mike Sary, baixista e senhor French TV himself, chegou lá, provavelmente demorou seis discos a fazê-lo, e não lhe adiantou de nada. Nós, oportunistas com sentido de risco assisado, atiramo-nos ao sexto quase de cabeça, e ficamos a ganhar. O risco era precisamente o opus 5 do cavalheiro, que francamente nunca por nunca prometia este salto qualitativo (tanto o não prometia que cometemos o abuso de presumir que o que está para trás também não seja relevante – mas podemos estar errados, e deve-se assumir essa possibilidade). Algo se deve ter passado, e só Sary pode dizer o quê. Intestinal Fortitude (o tal 5) não aquecia, exasperava, em digressões instrumentais algo insensatas (com vocalizações ainda piores), sem grande sentido de integração composicional e tematizações trôpegas, com guinadas gratuitas cuja intenção lúdica se quedava apenas annoying, e claro, com condições de produção a condizer, como aqueles sintetizadores que deviam estar no caixote de lixo da história e do beco. Nesse sentido, o título do brilhante opus 6, “The Violence of Amateurs” até cairía bem ao opus 5, se o seu título “Intestinal Fortitude” não fosse já interpretável como demasiado gráfico quanto ao seu conteúdo (nem nós íamos tão longe… que artista tão auto-crítico é Sary…)

Como, mas como é que passa para The Violence of Amateurs é mistério que só lhe fica bem. E como é que susteve “carreira” que lhe permitisse chegar ao sexto disco é empreendedorismo que consegue ser quase dignificante dos fracos resultados que (eventualmente) até aí produziu.

Factor (positivo) estranho para quem aborde à primeira distraída audição esta música, Sary é um ávido conhecedor e coleccionador de progressivo. Basta dizermos que a matriz instrumental do álbum e a sua solidez composicional e improvisativa conseguiram que só quando a dado passo se comete o give away de juntar uns acordes de sintetizador já um bocado passado pelo meio é que os censores do “eh pá, isto é progressivo” a partir do conhecimento básico (no mau sentido) dos seus clichés se apercebem do logro.
Progressivo, smchogressivo, isto é música de altíssimo gabarito. A agilidade das cambiantes rítmicas e temáticas tornou-se de um organicismo impecável. A dinâmica improvisativa desenvolve-se airosa balizada pelas irrepreensíveis, mutantes e estimulantes estruturas composicionais. A controlada diversidade de registos torna-o imune aos clássicos resmoneios “onde é que isto vai parar?” e “olhó solo balofo”.
Num álbum que, se quisermos classificar “progressivamente”, é marcado por dinâmicas vagamente canterburianas e vagamente RIO, a conciliação das duas resulta brilhante e altamente produtiva para os eventuais excessos ou fechamentos de cada uma isoladamente (se bem que tenham sido ou sejam das correntes mais produtivas e estimulantes do género). A parte RIO é a mais devedora do sentido lúdico da família dos agrupamentos de Lars Hollmer. E é curioso que o único ponto fraco do disco seja aquele onde fazem a vénia directa ao mestre, com uma cover de Joosan Lost/The Fate dos Zamla Mammas Manna, que francamente podia ter economizado 10 minutos de estética noise ou free não muito conseguida (felizmente está no final, para não assustar audições iniciáticas). Mas a inspiração indirecta faz maravilhas, agora que o lúdico e o circense se incorporam em matriz de gestão assisada evitando o grotesco e o gratuito dessas expedições. A veia canterburiana surge pela mesma sensatez controlada, e dando asas à imaginação na melhor veia da corrente que era não o descambar em solos meio FM, mas o incorporar a dinâmica instrumental naquela jazzy quirkyness temática (de perfeita imbricação rítmica, harmónica e melódica) que fazia a surpresa e frescura de Canterbury no seu melhor. Neste caso, quirkyness (é que não há tradução…) levada até territórios extra-musicais, com as incursões literárias de Sary nos livretes dos CD’s a pintar retratos sarcásticos das margens do real musical e político, fazendo uso sarcástico da sua condição de outsider de qualquer circunscrição.

A primeira faixa, parece quase uma provocação, ao pegar nos fetiches sonoros centrais mais circenses, quase a relembrar o esforço anterior dos French TV, e em 4 minutos condensá-los e fazê-los resultar sem quebras obtusas num exercício bem sucedido de musical teasing. Para que não restem dúvidas, Zappa também passou por aqui.
O humor, aliás, passa muito por aqui, mas como atitude intrínseca e escorreita, quase de bonomia, sem puxar pavlovianamente pela coisa, em inúmeros fragmentos, como a marcha inicial do segundo tema, espécie de Ponte sobre o Rio Kwai de exército prestes a descambar (e descambará) ao efeito de desbunde das brocas aspiradas na caserna. Ao que se segue inspirado e sincopado tema (aqueles sopros no ponto groovy) que dá o tom da classe deste disco que consegue não se levar a sério de forma seriamente competente.

Todo o álbum, e cada faixa, incorpora um caleidoscópio de inspirações sem esfregá-las na cara do auditor, passando pelo discreto sabor latino do início da quinta faixa, ou o subtil lounge jazz do início da quarta, sendo que cada uma jamais fica refém dessa primeira exposição temática (por isso não se assustem com a descrição, como ela parece requerer). O equilíbrio simbiótico entre temas constantemente sucedâneos e reconfigurados, irrupções inesperadas em surpreendente consonância estrutural, uma riqueza textural de apontamentos instrumentais a subtilmente estruturarem a percepção dos temas, são virtudes constantes em toda esta digressão, que merece os nossos encómios, sendo que a prodigiosa vitalidade temática e seus sabores exquisite conseguem integrar e dinamizar de forma exemplar as prolixas digressões intrumentais e improvisativas de cada faixa. E para quem os tenha visto em Gouveia em 2005, apaziguamos as reservas ao anunciar que a diversidade instrumental do álbum faz empalidecer a relativa pobreza tímbrica que os French TV em trio solitário e depauperado trouxeram cá ao vivo, não sinalizando convenientemente a densidade estrutural das composições.

Mike, podes ter massacrado a (pouca) gente que te tenha ouvido até então, e principalmente a ti próprio, e podes não ter, agora que o mereceste, mais gente a dar-te ouvidos. Mas, pela nossa parte, a esta distância dizemos-te: valeu a pena. Da próxima vez que nos calhar um disco esforçadamente mau na grafonola, prometemos, a nossa reacção será: dá-lhes tempo.

© 2006 TCC; phono.com

 

FRENCH TV–THE VIOLENCE OF AMATEURS

Mike Sary (baixista, líder do grupo e único integrante original) parece conduzir o grupo rumo a um renascimento de progressivos obscuros da década de 70, especialmente os relacionados ao Rock in Opposition (RIO) ou ao Zeuhl, como Magma, Art Zoyd e Zamla Mammas Manna. Classifico o “The Violence of Amateurs” como uma mistura de Fusion, Zeuhl e RIO (nesta ordem de ênfase), poderia até dizer que se trata de um disco de fusion, porém um fusion muito estranho. Escutando rapidamente pode-se perfeitamente confundir este grupo com um da década de 70.

O que torna especialmente difícil a assimilação do French TV é o humor que usam. Este disco pode ser considerado instrumental, pois há apenas algumas rápidas falas no meio da música, e essas sempre têm algum humor; como o “Arreina, Arreina, Arranei, Rou!” (ou alguma coisa assim parecida) que surge na primeira música. Alguns temas instrumentais também são bem engraçados, como a marchinha que inicia a segunda faixa. Na maior parte do tempo, porém, a música é séria e algumas faixas são inteiramente sérias. Quem conseguir se divertir com seu senso de humor e ainda apreciar suas elaboradas composições terá entendido o French TV.

“The Kokonino Stomp” parece ter sido escolhida como a primeira música para mostrar rapidamente, e de uma vez por todas, que French TV não é um grupo ortodoxo (esta é ótima para espantar visitas indesejadas). É uma música rápida com vários timbres diferentes e arranjados de uma forma realmente insana, além de campainha e apito de trem há um banjo que…. não sei como descrever, é melhor escutar — existe um convidado cuja única função é tocar este banjo durante alguns segundos. Esta não está entre as melhores músicas do disco, mas é uma ótima abertura.

A segunda, a terceira e a quarta são, por mim, as melhores faixas do disco, em especial destaco “The Secret Life of Walter Riddle”; está é a que melhor sintetiza o espírito do French TV: música elaborada, original, com algumas dissonâncias, um pouco de humor e, apesar de ser um mero 4/4, soa como algo muito mais “quebrado”, é um dos melhores exemplos que conheço de música complexa no 4/4.

“The Odessa Steps Sequence” e “Mail Order Quarks” são totalmente sérias, no auge do violino da “Mail Order Quarks” é difícil estabelecer alguma relação desta música com a abertura do disco. Ambas são muito boas.

“Tiger Tea” começa anunciando um retorno ao humor das primeiras faixas, mas torna-se séria logo depois. Boa música, mas não tem a mesma energia das anteriores.

O disco termina com “Joosan Lost/The Fate” que é uma versão de uma música do lendário grupo sueco Zamla Mammas Manna. Esta é uma música bem experimental, muitos efeitos de sintetizares estão presentes para “sujar” a música. Ela tem boas passagens, mas poderia ser mais curta — ao completar 15 minutos já começo a ficar cansado. Para mim este é o problema mais severo do disco, mesmo assim, considero esta uma boa música.

——Davi, SOUNDCHASER (BRAZIL WEBZINE)

FRENCH TV – Virtue In Futility, Pretentious Dinosaur Records CDOO1 – 55:17
FRENCH TV – Intestinal Fortitude, Pretentious Dinosaur Records – CDOO2 – 71:03
FRENCH TV – Yoo-Hoo!!! Pretentious Dinosaur Records – CDOO3 – 69:41

Os álbuns acima são os três mais recentes do FRENCH TV (respectivamente de 1994, 1995 e 1997). Os dois primeiros (French TV, 1983 e After A Lengthy Silence, 1986) encontram-se com as edições originals de vinil esgotadas no momento, sendo que After…foi reeditado em CD na Italia pela Mellow Records em 1996 (MMP 307) e acreditamos que ainda esteja disponivel Procedentes da cidade de Louisville, Kentucky, urn reduto da country music americana, o FRENCH TV urn projeto cornandado há mais de 15 anos pelo baixista e compositor Mike Sary. Os outros componentes podem variar a cada album e sempre existem convidados participando, alérn dos membros fixos(em Intestinal Fortitude, por exemplo, temos a presença de sax, flauta, violino, trumpete, etc, além dos clássicos guitarra, baixo, bateria e teclados). Aliás este album pode ser a meihor opção para os novatos exatamente por conter o momento mais conhecido do grupo: uma ótima versão de de Pioneers Over C, clássico do VAN DER GRAAF GENERATOR (de Hammill e Jackson) que chegou a ser incluída no álbum-tributo Eyewitness. Aliás, esta música uma das poucas da banda que possui vocal, poiso o grupo eminentemente instrumental. Born humor (presente nas capas, palavras do líder e titulos das músicas, como em Hey! Real Executives Jump From The 50th Floor!). Certa critica ao modelo americano (em textos publicados no encarte) e cruzamento de referências dos anos 70, parecern ser as marcas do FRENCH TV. Criando singelas melodias e harmonias no mais tradicional modelo contrapontistico barroco pode passar repentinamente ao atonalismo tipico de urn HENRY COW. De uma agradável balada pode pular para urn Hard vanguardista ao modo de urn HAPPY FAMILY e por aí val… São mornentos sinfônicos ao lado de certas experiências que podem lembrar a trajetória de grupos como KING CRIMSON e o próprio VDGG. Dos anos 90, além do citado HF, vale lembrar momentos do DJAM KARET ou até do AFTER CRYING. Ou seja: tudo feito em alto nivel.
——–FROM METAMUSICA #9